aqui vai o 2º capítulo....
2º Capítulo
Carolina dormia descansada, o silêncio reinava no seu quarto, à parte do tic-tac do despertador. Laika, a sua cadela, uma rafeira de pêlo castanho, tinha entrado à socapa no seu quarto e estava deitada no fundo da cama. De um momento para outro, lágrimas começam a rolar pela cara de Carolina. Não sabia ao certo o que se estava a passar!
Quando de manhã acordou e se deu conta que a almofada estava completamente encharcada, assustou-se. De momento nem se lembrava sequer que tinha sonhado. Mas ao olhar para a janela o sonho passou a correr pela sua mente. Tinha sonhado com uma janela, carros, um rapaz, um ambiente familiar. Eram só estes elementos que se lembrava nitidamente. Eram uma espécie de peças de puzzle separadas que ela teria agora que juntar.
- Bom dia filha! – disse a mãe repentinamente entrou pelo quarto a dentro.
- Bom dia mãe!
- Olha, por acaso não sabes da minha camisola verde escura, é que precisava dela!
- Eu usei-a mas pu-la para lavar, agora deve estar no teu quarto!
Da mesma maneira que entrou assim saiu do quarto, a mãe de Carolina, uma professora primária de 49 anos.
Num movimento rápido de cabeça, Carolina repara que a janela estava aberta e que no chão estava um enorme envelope que tinha escrito; “Para alguém que não conheço mas sinto tão perto!”. “Que seria? Quem teria mandado? O Luís não porque nem sequer falo com ele, mas também não me vem mais ninguém à cabeça! Como teria conseguido abrir a janela e deixar o envelope sem que eu notasse!”
Tudo estava tão confuso dentro da sua cabeça que nem hesitou em abrir o envelope na esperança de desfazer o mistério! Era um enorme desenho da sua janela que continha um vulto atrás com formas femininas, a rua repleta de carros de cores luminosas e um céu de um azul tão escuro com pequenas estrelas coladas como salpicos e a lua em quarto minguante. Não estava assinado, mas por trás tinha uma mensagem: “Quando estiveres à janela, não te fixes só nos automóveis, tenta encontrar outros olhares que como tu passam horas à janela!”
Tal mensagem deixou-a tão intrigada, não conhecia ninguém do prédio da frente, mas era disso mesmo que se tratava, de alguém que não a conhecia mas que ao vê-la todos os dias e durante tanto tempo à janela a sentia perto e quis conhecê-la melhor! Esquisito não deixava de ser a maneira como a pessoa tinha alcançado Carolina, mas a incógnita continuava: quem seria a tal pessoa?
Ontem mantiveste-me por perto
Hoje voei para longe
E amanhã: o incerto!
O mau tempo instalou-se...a chuva cai sem pedir licença e o vento arranca as folhas das árvores e abana os ramos com tamanha severidade... sentimo-nos tão pequeninos no meio de tanta confusão. Só queremos sentirmo-nos seguros dentro de quatro paredes e ver os relâmpagos lá fora a desenharem-se no céu... Não minto ao dizer que este tempo mexe comigo, gosto mas faz-me sentir só, com vontade de estar comigo a ouvir a chuva a cair, faz-me pensar!
Quase que componho uma música com as gotas a baterem na janela e com o uivar do vento... é tudo tão sombrio e ao mesmo tempo tão fascinante.
Aiiiii a chuva....
Queria ver
A chuva a cair
Os vasos a verter
A menina a sorrir
As gotas na janela a bater
O vento a soprar
As árvores a abanar
Os ramos a partir
As plantas a desfalecer
Tudo a mudar
Pois eu queria ver
Um dia a chover
porque um dia comecei esta aventura e nunca a terminei... um livro... uma história... um capítulo!
1º Capítulo
"Calma e serena a noite caía sobre nós. O Sol despediu-se, a Lua aparecia! O céu, até então alaranjado, ganhava tonalidades azuis e a escuridão ia-se tornando banal.
O vento corta o silêncio sentido, é frio porém suave! Confundidas com o céu, as nuvens passam despercebidas...
Carolina na janela do quarto conta os carros na estrada. Carolina era uma rapariga de 14 anos que em nada era semelhante às suas amigas.
Deparando-se com a banalidade do seu dia-a-dia, das mesquinhices existentes entre o seu grupo de amigas, Carolina resguardava-se no seu quarto e sem intenção fica junto da janela a contar os carros que passavam.
Num prédio do outro lado da rua no vive um rapaz muito mais velho que Carolina que todos os dias aprecia a figura esguia de cabelos longos e ondulados, de grandes e expressivos olhos castanhos que passa horas à janela, aparentemente sem propósito. Rui era o nome do rapaz a quem tal figura intrigava. “Que pensaria ela? Porque estaria ela ali durante tanto tempo?” eram perguntas que ocorriam na mente de Rui. Afinal de contas não a conhecia, era apenas uma rapariga que vivia no prédio da frente.
Carolina, por seu lado, quando estava na janela jamais reparava em pormenores...apenas se guiava pelo som dos automóveis de dia e pelos seus faróis de noite.
A noite era comprida e Carolina, sem sono, continuava acordada a pensar. A luz do candeeiro era a sua única companhia. De súbito estremeceu com o barulho do autoclismo, o seu irmão Pedro tinha ido à casa-de-banho. Tendo reparado na luz que vinha debaixo da porta do quarto da irmã, Pedro bateu e entrou:
- Que fazes acordada a esta hora?
- Oh! Não tenho sono e aproveitei para pensar no que se está a passar comigo! – explicou ela.
- Mas queres falar? O que se está a passar contigo?
- Sinto-me vazia, os meus dias não passam de uma monotonia onde o cinismo reina e a ironia e falsidade são valores adorados por todos aqueles com quem convivo naquele ambiente obscuro a que chamamos escola!
- Fogo! Tanto desânimo! Tu ainda és tão nova, se assim vais estás feita rapariga! Nem pareces tu! Tu que eras sempre uma rapariga alegre, que aparentemente não tinha problemas nenhuns....
- Pedro, as pessoas mudam! “Só não mudam os burros!” como o pai costuma dizer. Eu já não sou aquela menininha que era submissa a tudo! Agora tenho as minhas ideias e as minhas ideologias e não me importo de ter que ser vista como uma “freak” ou uma esquisa qualquer! As pessoas que pensem o que quiserem! Eu sou como sou!
- Calma linda! Concordo que deves ser quem és e mostrar isso a toda a gente! Mas agora pensa em descansar senão amanhã ainda vais estar pior!
- Hum.... Ta bem, ‘té manhã!
Pedro saiu do quarto e Carolina ficou impávida a olhar para a luz! Pedro era um rapaz de 21 anos, estudante universitário que nutria um amor muito grande pela sua irmã mais nova! Era um rapaz alto, esguio como a irmã e com o cabelo ondulado, curto, de um castanho que se confundia com preto. Os olhos verdes salientavam-se no meio de uma cara tão morena que emanava uma simpatia nunca tal vista.
Carolina acabou por chegar à conclusão que não ia deixar de ser ela porque as amigas achavam mal! Com esta conclusão sentiu-se bem, apagou a luz e mergulhou num sono descansado, pensava ela! "